Para eleger Edmilson Rodrigues é preciso mudar
radicalmente a campanha e garantir uma vitória do PSOL e dos trabalhadores em
Belém
Finalizadas as eleições no 1º turno, mesmo com um partido
ainda pequeno, podemos afirmar que no geral as campanhas do PSOL avançaram
porque se apresentaram como uma alternativa frente ao governo Dilma PT/PMDB e a
falsa oposição de direita PSDB/DEM.
No Rio de Janeiro a campanha de Marcelo Freixo questionou
as empreiteiras, denunciou os contratos com as empresas de ônibus e toda a
lógica mercantil que transforma a capital numa Cidade-Empresa por conta dos
negócios da Copa e Olimpíadas. Em Itaocara-RJ, o PSOL elegeu seu primeiro
prefeito, sem alianças com partidos governistas ou da oposição de direita, sem
negociatas com legendas de aluguel, sem dinheiro de empresários e com a
campanha feita num fusquinha velho. Antes de assumir, Gelsimar Gonzaga,
prefeito eleito em Itaocara, já anunciou fazer auditoria nas contas da
prefeitura, dirigir a prefeitura sob as ordens de conselhos populares eleitos
diretamente e prometeu nomear o secretário de educação após eleição entre os
professores do município.
Em Belém, a campanha de Edmilson Rodrigues que aglutinou
amplos setores descontentes com a atual prefeitura de Duciomar (PTB) que foi
eleita na coligação com o PDT e com o apoio do PSDB, deixou escapar uma
oportunidade de se firmar como oposição de esquerda fortalecendo o PSOL e uma
mudança real aos trabalhadores belenenses. Mesmo quando a campanha de Edmilson
tinha 47% nas pesquisas não se falava nada das demais candidaturas
representantes dos mega-empresários, latifundiários e corruptos. O clima de
“paz e união” da campanha sem denunciar os verdadeiros responsáveis pela
situação de crise social em que se encontram esmagadora maioria da população
pobre de Belém foi o que abriu espaço para o crescimento da candidatura dos
tucanos.
Não duvidamos que a compra de votos, o uso da máquina do
estado e o fisiologismo nas eleições tenham contribuído para a queda de
Edmilson e o crescimento de Zenaldo do PSDB. No entanto, o fundamental é
ajustar urgentemente a linha política da campanha de Edmilson. Pois é o giro à
direita na condução da campanha e a ampliação do leque de alianças para setores
corruptos e patronais que explicam as dificuldades que enfrentamos nesse
segundo turno. O risco que corremos é o de que o PSOL se descaracterize
completamente e perca a oportunidade de governar para a maioria da nossa cidade
- o povo pobre e trabalhador. Isso é assim porque em Belém também está sendo
aplicada a política de alianças orientada pela tendência do Senador Randolfe e
do presidente do Partido, o Deputado Ivan Valente. E a atual rebelião que está
em curso no PSOL, que produziu notas unificadas no diretório nacional,
resoluções dos diretórios estaduais e municipais, insatisfação da militância de
base, deve ajudar a reverter a lógica pragmática que também está em curso em
Belém.
Queremos derrotar os tucanos e emplacar uma vitória do PSOL
e para isso necessitamos identificar os erros de nossa campanha e a partir daí,
ver quais mudanças temos que fazer. Abordaremos temas que também foram
comentados por outras tendências do PSOL ou por militantes do Partido, como a
nota da Corrente APS do vereador Fernando Carneiro (“Resolução sobre o PSOL
nas eleições 2012 e o segundo turno”) e o texto do militante psolista de
Belém, Mauricio Matos (“Trabalhadores e Burguesia: com quem vamos governar?”).
Os erros começaram com a coligação com o PC do B, o partido
do agronegócio, das negociatas do Ministério dos Esportes e da corrupção de
Orlando Silva. Depois veio a vinculação de Marina Silva, ex-ministra do governo
Lula, que teve nas eleições presidenciais o candidato a vice-presidente um dos
donos da Natura, empresa que roubou as erveiras do ver-o-peso. Marina tem um
claro projeto ecocapitalista, reivindica a política econômica de FHC e de Lula
e faz parte de um “movimento por um novo partido” patronal que namora ao mesmo
tempo a base governista e a oposição de direita, tema sobre o qual nos
posicionamos no dia 24 de agosto.
Como se isso não bastasse, a campanha de Edmilson chegou ao
absurdo de utilizar a figura de Lula e de Dirceu no programa de TV, exatamente
no período em que os mensaleiros estavam sendo julgados e condenados no STF. Ou
seja, não só a campanha deixava de denunciar os governos tucanos e quem Zenaldo
representa, como ao mesmo tempo se aproximava do PT e do governo federal. Isso
não só descaracteriza o PSOL como partido de oposição de esquerda, como fez
crescer uma“desconfiança” entre pessoas do povo que nos viam como o novo. O que
devem ter imaginado os professores da UFPA e da UFRA que enfrentaram na greve o
governo Dilma? E o servidores federais que tiveram o ponto cortado pelo governo
federal? O que passou pela cabeça dos professores do estado que fizeram uma das
maiores greves no Pará contra o governo de Ana Júlia do PT? O pior é que nossa
campanha combinou essa linha com a velha forma de fazer política. Ao invés
do“tostão contra o milhão” para empalmar com setores médios que repudiam o
“toma lá da cá” das campanhas eleitorais, recebeu mais de R$ 400 mil de
empresas e infelizmente nem todos na nossa campanha poderiam utilizar a blusa
criada no RJ “Não recebo um real, Tô na rua por um ideal”. Situação que
denunciamos aos dirigentes nacionais do Partido em nota de 25 de Setembro.
Insistindo no erro, já no primeiro programa eleitoral do 2º
turno a campanha de Edmilson estampa a “ampliação” da campanha com a entrada de
mensaleiros na frente eleitoral: aparecemos abraçados ao PT, o Partido de Paulo
Rocha que acaba de ser condenado por Joaquim Barbosa no julgamento do mensalão,
o Partido de Ana Julia que foi derrotada nas ruas e nas urnas após seu governo
neoliberal. Na mesma semana os jornais veicularam a realização de reuniões de
representantes da campanha de Edmilson com dirigentes do PMDB – a sigla da
raposa que roubou o mandato de Marinor no senado, e no outro dia o “caloroso”
apoio do PDT de Giovani Queiroz, famoso latifundiário paraense, partido esse
que compõe até hoje o governo corrupto de Duciomar Costa. Sem falar no PPL, dos
ex-PMDB.
Não concordamos com o vale-tudo eleitoral. Rejeitamos
intransigentemente o apoio dos inimigos do povo. E está mais do que claro que
um partido de esquerda não pode atuar com o método da “máquina calcular” e das
alianças espúrias. Ao juntar forças políticas opostas o “apoio” não adiciona
nada ao nosso projeto. Ao contrário, anula o caráter de esquerda de nosso
partido e subtrai a simbologia de mudança que Edmilson encarna. Ao invés de
denunciar os partidos que só fazem trair os trabalhadores arrochando salários, reprimindo violentamente
as lutas e mobilizações do povo por moradia, saúde digna, educação pública de
qualidade e desmascarar o modo corruPTo de governar, nossa
campanha “soma forças” com aqueles que querem destruir o PSOL, com isso faz cair por terra a esperança de uma
verdadeira mudança na forma de fazer política em nossa cidade.
Sob o discurso de que “apoio não se nega”, o PSOL-AP chegou
ao absurdo de estar com o PTB, o DEM e o PSDB. Sob o argumento de que “são
apoios e não coligações”. Já se fez campanha para o PTB em 2010 na disputa de
Macapá, quando Randolfe coordenou a campanha de Lucas Barreto, um dos
envolvidos nos atos secretos de Sarney, contrariando resolução nacional do
Partido. Sob o argumento de “acordos táticos para vencer são necessários”
a direção da campanha camufla reuniões com vereadores evangélicos reacionários
contrários a temas importantes para
nosso partido como a união homoafetiva e a descriminalização do aborto,
com o PPS que governa o Estado com o PSDB, e até mesmo – por incrível que isso
possa parecer – com a família do coronel Jader Fontenelle Barbalho!!! Duvidamos
que alguns desses setores estejam interessados em algum debate político e
programático sobre os rumos da cidade. O que eles querem são cargos, dinheiro e
poder, coisa que o PSOL não pode lhes oferecer, sob pena de cair nas tenebrosas
transações que arrastaram outros partidos de esquerda para a vala comum da
falsa democracia burguesa.
Além disso, em meio ao caos que vive nossa cidade o centro
da campanha de Edmilson foi reivindicar as premiações do “prefeito criança”, o
bolsa escola e uma gestão competente. Nada ao funcionalismo municipal. Nada de
se comprometer com a pauta da greve dos servidores da saúde, nada de se
comprometer em cumprir o estatuto do magistério aos professores, nada de acenar
uma negociação das perdas salariais aos servidores do município.
No transporte público o mesmo Edmilson que como deputado
participou e se solidarizou com os atos contra o aumento da passagem, agora
como candidato a prefeito não falava nenhuma vírgula sobre enfrentar o
monopólio das famílias de empresários de ônibus congelando a tarifa, se
comprometendo a apresentar uma proposta de passe-livre a estudantes e idosos e
afirmando compromisso de rever os contratos fraudulentos com as empresas do
transporte urbano.
Nesses poucos dias de campanha que ainda faltam é preciso
dar um giro de 180 graus. Primeiro denunciando o governo estadual e seu
candidato tucano. Responsabilizando-o pelo sucateamento dos serviços, as mortes
na Santa Casa, a greve dos professores para que Jatene pagasse o piso.
Somos a única candidatura da mudança, por isso nossos
aliados não podem ser mensaleiros, nem velhas raposas. Queremos ganhar e são
muito bem-vindos os votos de qualquer outro candidato, mas só será possível se
comprometendo com as reivindicações dos trabalhadores e do povo pobre. Isso não
é utopia, sectarismo ou vocação para “apenas marcar posição” como pensa o setor
majoritário. A campanha do PSOL no Rio, sem abrir mão de nenhumas das propostas
e das denuncias que fazia, atraiu apoios importantes: petistas insatisfeitos
com apoio do PT a Eduardo Paes, Brizolistas dissidentes do PDT, assim como
também a adesão de votos e de militantes do PC do B. Em Itaocara, a campanha de
Gelsimar aproveitou a divisão dos partidos patronais e apresentou uma campanha
alternativa, de massas, que empalmou com o sentimento de mudanças dos
trabalhadores e do povo. Por isso, por sua firmeza e coerência, derrotou os
clãs oligárquicos ligados a Sergio Cabral e Garotinho.
A vitória de Edmilson tem que ser uma vitória dos "de
baixo”, da cidade celebrando a tradição da resistência Tupinambá, a revolução
Cabana, as greves operárias e mobilizações populares e juvenis das últimas
décadas. Por isso, enquanto há tempo é hora de mudar o tom e confiar na força
dos milhares de trabalhadores e jovens para conquistar a primeira capital do
PSOL, realizando um governo radicalmente diferente ao que está sendo feito hoje
e muito melhor do que foi feito antes.
Belém do Pará, 17/10/2012
Corrente Socialista dos Trabalhadores
Silvia Leticia – Secretária Geral do PSOL Belém
Douglas Diniz – Membro da DN e Secretário de
Organização do PSOL Belém
Julia Borges – Membro do Diretório Municipal do PSOL
Belém
Francisco Lopes – Membro do Diretório do PSOL Belém
Neide Solimões – Executiva do PSOL Pará
Denis Melo – Executiva do PSOL Pará
Mauricio Santos Matos – PSOL Belém – Ativista contra
Belo Monte